Querido Pai Natal,
esta é a primeira vez que te escrevo; até hoje nunca tinha tido coragem porque sempre me disseram que tu não gostavas de meninos como eu.
Quando se aproximava esta época, todos os meus colegas da escola começavam a falar em ti e de como eras simpático , que trazias prendas muito fixes e que já estavam a pensar escrever a carta deste ano…eu bem os ouvia e por vezes lá arriscava dizer que era nesse ano que eu também ia escrever-te. Era aí que as coisas ficavam feias- imediatamente, quase todos se riam e começavam a apontar para mim e a chamar-me nomes… alguns até me atiravam com o que sobrava do lanche.
Eu, triste, magoado, ferido por dentro – e às vezes por fora – voltava para a sala e fingia que me doía um dente.
Quando chegava a casa começava logo a preparar umas batatas para o nosso jantar pois já sabia que a minha mãe ia chegar muito tarde. A minha irmã às vezes aparecia com o bebé mas era só para eu tomar conta dele enquanto ela ia resolver uns assuntos….nunca teve tempo para perguntar como é que eu estava; nunca me deu tempo para lhe perguntar nada sobre ti…
À hora de jantar nunca podíamos falar porque o meu pai tinha de ver televisão e ficava muito irritado quando ouvia certas noticias – sobretudo umas que tinham a ver com despedimentos…ele nunca me disse nada mas eu sabia que ele também não tinha trabalho há algum tempo.
A minha mãe andava sempre com um ar tão cansado e triste – às vezes também tinha umas nódoas negras e eu não percebia porquê… afinal ela já não andava na escola nem nada!! E quando eu tentava saber se podia ou não escrever-te… dizia-me sempre para eu ir estudar e que não valia a pena pensar muito em ti porque nesse ano não ias querer saber de mim para nada.
Quando mais uma vez decoraram a árvore de natal lá no pátio da escola, começaram todos a falar em ti. E mais uma vez arrisquei, estava mesmo decidido: era este ano que eu iria escrever-te! Não foi preciso muito tempo para começarem os insultos habituais mas que nestes dias parecem maiores: Ele não gosta de putos como tu, pá! Esquece lá isso!
Mas este ano fui mais forte; mesmo sabendo que afrontar quase uma turma inteira podia dar-me problemas afirmei na voz mais confiante e potente que encontrei dentro de mim:
ESTE ANO VOU ESCREVER MESMO. ELE HÁ-DE LER A MINHA CARTA!
Galhofa geral. Os dedos acusatórios, gozões, a apontarem para o meu nariz. As piadinhas e os palavrões a cair em cascata. E um primeiro pacote de leite e um primeiro caroço de maça a voarem contra mim….
-PÁREM LÁ COM ISSO, DEIXEM O MIUDO EM PAZ!
A voz vinha do topo da árvore de natal. Encavalitado entre a escadaria do pátio e os galhos do pinheiro estava um senhor de certa idade que imediatamente veio colocar-se entre mim e a turma. Falou alto, com voz de trovão, sobre o verdadeiro espírito da época fazendo-os jurar que nunca mais se meteriam comigo…
Depois veio falar comigo. Eu, envergonhado, lá lhe contei o porquê daquelas cenas. E, ainda mais envergonhado, falei-lhe de ti e das cartas que nunca te escrevi. Ele olhou para mim, depois olhou para o céu e respirando profundamente disse:
-Escreve agora a carta; ou melhor, escreve daqui a um mês. Ou até em pleno verão a contar como vai a tua vida. Pior do que não ter ninguém para te ouvir, é ter toda a gente a falar contigo mas só durante uns dias… e depois esquecerem-se de ti o ano inteiro.
E lá voltou para a escadaria para colocar as ultimas luzinhas na árvore…
As coisas agora estão mais calmas. O meu pai já tem trabalho e jantamos todos mais cedo. Vou passar para o 8º ano com boas notas. e assim de repente não tenho mais novidades. Daqui a um mês, quando voltar de Vila Nova, onde vou passar as férias grandes com os meus avós, escrevo-te outra vez, está bem?
Um beijinho para ti do
Tó
PS: também tens férias?
domingo, dezembro 16, 2007
Será que posso colocar os envelopes com janela no ecoponto azul?
Será que posso colocar latas de atum no ecoponto amarelo?
Será que posso colocar garrafas de azeite no ecoponto verde?
Se respondeu que sim a todas estas questões, parabéns! Está esclarecido/a sobre algumas das principais duvidas que surgem quando vamos separar os nossos resíduos.
O problema é que estas até podem ser perguntas com rasteira – afinal o envelope tem plástico, a lata e a garrafa têm gordura… mas vamos lá ver… ainda tem duvidas sobre algodão? Restos de comida? Fraldas??
É que foi tudo isto que vi ontem, DENTRO do papelão perto de minha casa… e como é que é possível, depois de tantas campanhas, tantos programas de televisão ainda haver este tipo de comportamentos! Já é péssimo deixar os lixos espalhados pelas ruas, fora dos contentores- em dias mais quentes, propagam-se cheiros, atraem-se animais- enfim, potenciam-se problemas para a saúde e para o ambiente.
Mas colocar o lixo lá de casa dentro do papelão, significa contaminar tudo o que lá está dentro! Porque os jornais, revistas, papeis que lá estão depositados vão ficar sujos e não vão servir para nada.
Pense, de cada vez que for reciclar.pense amarelo, verde, azul. Mas pense.
Se ainda achar que o lugar do lixo é dentro do ecoponto, atire-se também lá para dentro.
Será que posso colocar latas de atum no ecoponto amarelo?
Será que posso colocar garrafas de azeite no ecoponto verde?
Se respondeu que sim a todas estas questões, parabéns! Está esclarecido/a sobre algumas das principais duvidas que surgem quando vamos separar os nossos resíduos.
O problema é que estas até podem ser perguntas com rasteira – afinal o envelope tem plástico, a lata e a garrafa têm gordura… mas vamos lá ver… ainda tem duvidas sobre algodão? Restos de comida? Fraldas??
É que foi tudo isto que vi ontem, DENTRO do papelão perto de minha casa… e como é que é possível, depois de tantas campanhas, tantos programas de televisão ainda haver este tipo de comportamentos! Já é péssimo deixar os lixos espalhados pelas ruas, fora dos contentores- em dias mais quentes, propagam-se cheiros, atraem-se animais- enfim, potenciam-se problemas para a saúde e para o ambiente.
Mas colocar o lixo lá de casa dentro do papelão, significa contaminar tudo o que lá está dentro! Porque os jornais, revistas, papeis que lá estão depositados vão ficar sujos e não vão servir para nada.
Pense, de cada vez que for reciclar.pense amarelo, verde, azul. Mas pense.
Se ainda achar que o lugar do lixo é dentro do ecoponto, atire-se também lá para dentro.
“Rato a rato, enche o gato o papo”, dizia-lhe a Avó Nina, já desesperada. Max ouvia-a e baixava os bigodes em sinal de respeito. Sabia que toda a sua família, irmãos, primos, tios, cunhadas e padrinhos faziam parte dessa grande estirpe felina de caçadores exímios de ratos. Mas ele não percebia porque é que também tinha que ser assim… Havia algum contrato assinado à nascença que o obrigava a perseguir indefesos ratinhos, sempre muito mais pequenos do que ele e que ficavam apavorados só de o ver chegar? Não havia, com certeza. Até porque, bem vistas as coisas, ele nem sequer sabia escrever… como poderia ter assinado fosse o que fosse??
Enquanto pensava nestas coisas, ia acenando com a cabeça, para a Avó achar que ele estava com muita atenção…ele já sabia o discurso todo: que os gatos sempre caçaram ratos; que os ratos já sabem que é esse o seu destino; que caçar estimula os sentidos felinos; que por serem os caçadores da Quinta é que a Dona da Casa lhes dava abrigo e miau, miau, miau, miau…..
Findo o rosário de queixas, choros e miados que terminavam sempre com “Mas porque é que tinhas que nascer diferente dos outros gatos todos?”, a avó Nina voltava para a cozinha, abanando a cabeça e a cauda....
Max aproveitava a folga e corria em direcção ao terraço do lagar. Do que ele gostava mesmo era de estar assim, deitado de barriga para o ar e ronronando ao Sol. Para quê perder tempo a perseguir ratos, ratinhos e ratazanas sabendo que bastava olhar para eles e fazer uma careta que todos fugiam num ápice?
Talvez por não querer ser caçador como todos os outros gatos da Casa, Max passava grandes temporadas sozinho. Preguiçando, lambendo o pelo alaranjado, alisando os bigodes, trepando às arvores para espreitar o mundo para lá da Quinta… tudo isto, Max adorava fazer. E queria que os outros gatos também o fizessem mas pelos vistos, andavam todos demasiadamente ocupados a caçar. E quando passavam por ele, lançavam-lhe uns olhares esquisitos. entre dentes comentavam que Max era um gato muito raro, porque não queria caçar mas que de gatos raros não reza a história e que, mais cedo ou mais tarde, ele ia aperceber-se de que estava errado, porque se todos caçavam, ele também tinha que o fazer e miau, miau, miau… Max fingia que não percebia. Mas ficava triste por saber que a sua família o encarava desta forma. E que o achavam esquisito e raro. Mas porque razão era raro um gato de Quinta não-caçador? Haveria assim tanto rato espalhado pela Casa que fosse necessário um batalhão felino sempre a postos? Max achava que não. Que era tudo um perfeito disparate e que os gatos poderiam fazer muitas outras coisas para além do que estava estabelecido. Tendo reflectido sobre o assunto, rebolou-se um pouco para apanhar Sol nas costas.
Max sentia-se só; apesar de ser bastante independente como todos os gatos, sentia falta de um mimo, precisava de um gato amigo com quem pudesse falar e brincar e a quem pudesse lamber as orelhas. Mas nenhum dos gatos da Casa queria fazer isso com ele. Porque Max era um gato diferente, todos decidiram tratá-lo de forma distinta: para as grandes assembleias felinas, ele nunca era convocado; para as festas de aniversário, jamais recebia convite; as grandes tardes de domingo à volta do pomar, com jogos, corridas e saltos eram passadas sem ele- se ele não caçava, certamente não conseguiria sequer dar um pulo sem se magoar.
E ele assistia a tudo, do alto de um velho carvalho ao lado do palheiro. Era a arvore mais alta e por isso a preferida de Max. Era o melhor lugar para ver sem ser visto.
O tempo foi passando e Max resignou-se. Ainda tentou caçar um ou outro rato mas, sempre que os via, apetecia-lhe pôr-se à conversa com eles já que não tinha mais nenhum animal com quem falar… mas os ratos desconfiavam de todos os gatos e fugiam a 7 patas.
Numa tarde de Primavera, Max, no alto do velho carvalho, reparou que os portões da Quinta se abriam para deixar entrar um automóvel. Lá dentro, para além dos Donos da Casa, vinha outra pessoa. Uma Menina. Era bastante pequena. Media metade da porta de Casa. A curiosidade é um dos grandes defeitos dos gatos; Max podia não ser caçador mas era curioso…por isso, apercebendo-se de que a Menina ia dormir no Quarto com a janela que dá para o lagar, foi-se logo pôr a espreitar. Viu-a a pousar uma boneca em cima da cama e a abrir algumas gavetas e armários. A seguir, e com a certeza de que ninguém a estava a ver, a Menina pulou cinco vezes em cima da cama, afundando-se depois no meio de almofadas macias e rindo deste pequeno disparate que normalmente os Adultos condenam…Max também se riu. Mas se calhar riu-se para fora ou então a Menina viu uma mancha laranja a mexer-se no lado de fora da janela. De repente os olhares dos dois cruzaram-se. “Um gato!” exclamou a Menina! “Oh-Oh!” pensou o gato. E fugiu de novo para o topo da arvore. A Menina veio a correr cá para fora mas já não conseguiu perceber para onde tinha ido o gato.. foi ter com a Dona da Casa e disse: “Tia, onde é que costuma estar o Gato?” “Carolina, a Quinta tem muitos gatos. Mas não te ponhas a brincar com eles, não são nada meigos, só servem para caçar ratos e comer ração.”
Max aprendeu duas coisas: a Menina é Sobrinha da Dona da Casa e chama-se Carolina. Mas também percebeu porque é que os Humanos não simpatizam muito com Gatos e os Gatos todos da família não dão muita importância aos Humanos.
À noite, Carolina ainda espreitou a janela antes de correr as cortinas mas não viu o Gato. Nenhum Gato.
Na manhã seguinte, logo a seguir ao pequeno almoço, Carolina aproveitou uma ideia da Tia: “ Vai dar uma volta pela Quinta, tens muito que explorar…”
Durante um bom par de horas teve tempo de passear pelo Pomar, pelo Palheiro, ver as alfaces e as cenouras; dar milho às galinhas e ajudar o Senhor que Trata dos Cavalos a dar umas maçãs bravo-esmolfe ao Luso, o maior cavalo da Quinta. Enquanto roía também uma daquelas belas maçãs, pensava “O que será feito do gato?” aliás estava até intrigada por, ao longo daquele passeio não ter visto nem um único gato e a Tia tinha-lhe dito que havia imensos… “Isso é porque os gatos dormem de dia… à noite, andam por aí, aos ratos…” respondeu o Tio à Carolina que afinal estava a pensar em voz alta. “Gostava tanto de brincar com um…” confessou-lhe a sobrinha. “Isso vai ser difícil”, replicou o Tio, “Eles são muito senhores do seu nariz e só servem para caçar… se bem que ouvi dizer que há um meio alaranjado que nunca foi visto a fazer nada, a não ser estender-se ao Sol… pode ser que tenhas sorte com esse!” disse o Tio, rindo da possibilidade de um Gato brincar com um Humano.
Carolina estava decidida a encontrar o gato laranja. Porque razão o Tio teria rido? Na Casa onde vivia, na Cidade, Carolina tinha 2 gatos que brincavam imenso com ela, não havia nada de mais nessa situação. Depois do almoço seria uma boa hora para o encontrar. Todos os gatos gostam de dormir a sesta. Bem, todos os gatos gostam de dormir. Ponto final. A hora a que o fazem é totalmente indiferente. Mas baseada na experiência do Luca e da Bianca, os seus gatinhos de estimação, Carolina já sabia algumas coisas sobre estes bichanos. Só não sabia se os Gatos do Campo se comportariam de forma diferente….Ao pensar num deles a caçar um rato e a transportá-lo na boca pendurado pela cauda, ficou um bocado enjoada…. Mas tinha a certeza de que o seu futuro amigo laranja era o tal gato que nunca tinha caçado um rato! E decidiu descobrir esse gato.
Ao fim do dia, cansada de subir e descer os carreiros da Quinta, de espreitar todos os cantos, de bisbilhotar todos os possíveis esconderijos, Carolina exclamou: “Será que os Gatos do Campo são invisíveis durante o dia?” “Não… tu é que não estás a procurar nos sítios certos” disse Max, empoleirado no seu carvalho.
- Gato laranja… encontrei-te. Aliás, encontraste-me!
- Chamo-me Max. E tu és a Carolina.
- Sim. Andava à tua procura desde ontem. Porque é que fugiste?
- Tinha que fugir, estamos preparados para fugir perante o perigo.
- Eu sou um perigo? – disse Carolina , sem controlar o riso…
- Bem, és humana. E se eu não sirvo para caçar os ratos que te incomodam, então, não sirvo para mais nada; por isso não deves querer-me por perto…
- Oh Max, os gatos não servem só para caçar ratos; quem te disse isso?
- A minha Avó. E a minha Mãe. E o meu Tio, Pai, Avô… bem todos! Todos sabem que nós, gatos, se não caçamos ratos somos inúteis!! E eu sou um inútil. Não sirvo para nada.
- Não digas isso. Tenho 2 gatos em casa que nunca caçaram ratos. E são muito válidos!
- Espera lá, tens gatos… em Casa? Dentro de casa?
- Sim, claro. São de estimação. Adoro-os. Brinco imenso com eles.
Para Max, aquela conversa era a confirmação de toda a sua existência. Afinal, ERA POSSIVEL ser um gato não caçador! Havia outros exemplos, outros gatos que não caçavam. Max estava capaz de saltar para o colo de Carolina e ronronar duas horas seguidas!
- Carolina, Carolina, vem jantar. Gritou a Tia, do interior da Casa.
- Max, tenho que ir. Amanhã queres passear comigo? Encontro marcado aqui às 10 da manhã!
O dia seguinte foi maravilhoso. Carolina contou ao gato tudo aquilo que sabia sobre os gatos que viviam na cidade; Max por sua vez, ensinou-lhe muito sobre a vida numa Quinta: a importância de expulsar os roedores para que não haja doenças nem se estraguem as sementes, por exemplo. Mas também lhe contou do quanto se sentia triste por não ser nunca convidado para nada do que os outros gatos planeavam.
Carolina estava tão feliz por ter mais um amigo gato que praticamente se esquecera de que ficava na Quinta só durante as férias de Páscoa e que no Domingo seguinte já era tempo de regressar. Assim, na véspera, teve que dar a noticia ao bichano laranja. Max ficou desolado. A sua única amiga ia partir. E ele voltaria a ser um gato esquisito no meio da Quinta. Ela prometeu voltar todas as férias. Ele, escondendo com a pata uma lágrima teimosa, saltou-lhe para o colo. Despediram-se ali mesmo, para evitar um adeus no dia seguinte.
Max trepou para o alto do velho carvalho, decidido a nunca mais descer.
Nessa noite, Max não conseguiu pregar olho. Só pensava no vazio que iria ser a sua vida até às próximas férias escolares. Se ao menos tivesse um amigo com quem desabafar estas angústias….e enquanto alisava os bigodes e suspirava, ouviu um barulho. Passava-se qualquer coisa lá em baixo. A curiosidade, como é mais forte do que tudo na vida de um gato, fê-lo descer. Viu então um enorme bolo com 5 bonitas velas! Era a noite do seu aniversário! Tinha-se esquecido completamente. Aliás, nunca ninguém – gato ou humano – tivera em conta a efeméride! Só podia ser coisa da Carolina! Como é que ela descobrira?
Um a um, os gatos da Quinta apareceram e colocaram-se à volta do bolo. A Avó Nina, foi a última a surgir e a dar um beijo repenicado no focinho de Max.
- Então e a Carolina?
- A Carolina já foi. Os Donos da Casa decidiram ir de noite, acho que por causa de uma coisa chamada “trânsito”.
- Então… esta ideia não foi dela?
- Não meu querido, foi nossa. Ao longo destes dias, cada um de nós foi ouvindo pedaços das vossas conversas, espreitando as vossas brincadeiras. E fomos percebendo que afinal, não há nada de errado em não ser igual… porque tens tu que ser caçador, se não é isso que queres ser? Entendemos que um gato não-caçador tem tanto valor quanto um que o seja. Pode fazer companhia, por exemplo. Dar amizade sem pedir nada em troca. Estar sempre por perto, pronto para uns mimos e umas brincadeiras. E isso é tão ou mais importante do que correr atrás dos ratos. Max; mostraste-nos que consegues fazer coisas maravilhosas pelos outros. Outras coisas. E essa partilha é que é verdadeiramente rara. Obrigada por nos ajudares a perceber que a vida não tem que ser uma enorme perseguição aos ratos do campo.
Num cantinho, escondidos atrás de um fardo de palha, uma família de ratos celebrava também o aniversário de Max. Pelo menos esta noite, iam poder descansar.
( conto escrito para a colectanea "Histórias Raras" )
Enquanto pensava nestas coisas, ia acenando com a cabeça, para a Avó achar que ele estava com muita atenção…ele já sabia o discurso todo: que os gatos sempre caçaram ratos; que os ratos já sabem que é esse o seu destino; que caçar estimula os sentidos felinos; que por serem os caçadores da Quinta é que a Dona da Casa lhes dava abrigo e miau, miau, miau, miau…..
Findo o rosário de queixas, choros e miados que terminavam sempre com “Mas porque é que tinhas que nascer diferente dos outros gatos todos?”, a avó Nina voltava para a cozinha, abanando a cabeça e a cauda....
Max aproveitava a folga e corria em direcção ao terraço do lagar. Do que ele gostava mesmo era de estar assim, deitado de barriga para o ar e ronronando ao Sol. Para quê perder tempo a perseguir ratos, ratinhos e ratazanas sabendo que bastava olhar para eles e fazer uma careta que todos fugiam num ápice?
Talvez por não querer ser caçador como todos os outros gatos da Casa, Max passava grandes temporadas sozinho. Preguiçando, lambendo o pelo alaranjado, alisando os bigodes, trepando às arvores para espreitar o mundo para lá da Quinta… tudo isto, Max adorava fazer. E queria que os outros gatos também o fizessem mas pelos vistos, andavam todos demasiadamente ocupados a caçar. E quando passavam por ele, lançavam-lhe uns olhares esquisitos. entre dentes comentavam que Max era um gato muito raro, porque não queria caçar mas que de gatos raros não reza a história e que, mais cedo ou mais tarde, ele ia aperceber-se de que estava errado, porque se todos caçavam, ele também tinha que o fazer e miau, miau, miau… Max fingia que não percebia. Mas ficava triste por saber que a sua família o encarava desta forma. E que o achavam esquisito e raro. Mas porque razão era raro um gato de Quinta não-caçador? Haveria assim tanto rato espalhado pela Casa que fosse necessário um batalhão felino sempre a postos? Max achava que não. Que era tudo um perfeito disparate e que os gatos poderiam fazer muitas outras coisas para além do que estava estabelecido. Tendo reflectido sobre o assunto, rebolou-se um pouco para apanhar Sol nas costas.
Max sentia-se só; apesar de ser bastante independente como todos os gatos, sentia falta de um mimo, precisava de um gato amigo com quem pudesse falar e brincar e a quem pudesse lamber as orelhas. Mas nenhum dos gatos da Casa queria fazer isso com ele. Porque Max era um gato diferente, todos decidiram tratá-lo de forma distinta: para as grandes assembleias felinas, ele nunca era convocado; para as festas de aniversário, jamais recebia convite; as grandes tardes de domingo à volta do pomar, com jogos, corridas e saltos eram passadas sem ele- se ele não caçava, certamente não conseguiria sequer dar um pulo sem se magoar.
E ele assistia a tudo, do alto de um velho carvalho ao lado do palheiro. Era a arvore mais alta e por isso a preferida de Max. Era o melhor lugar para ver sem ser visto.
O tempo foi passando e Max resignou-se. Ainda tentou caçar um ou outro rato mas, sempre que os via, apetecia-lhe pôr-se à conversa com eles já que não tinha mais nenhum animal com quem falar… mas os ratos desconfiavam de todos os gatos e fugiam a 7 patas.
Numa tarde de Primavera, Max, no alto do velho carvalho, reparou que os portões da Quinta se abriam para deixar entrar um automóvel. Lá dentro, para além dos Donos da Casa, vinha outra pessoa. Uma Menina. Era bastante pequena. Media metade da porta de Casa. A curiosidade é um dos grandes defeitos dos gatos; Max podia não ser caçador mas era curioso…por isso, apercebendo-se de que a Menina ia dormir no Quarto com a janela que dá para o lagar, foi-se logo pôr a espreitar. Viu-a a pousar uma boneca em cima da cama e a abrir algumas gavetas e armários. A seguir, e com a certeza de que ninguém a estava a ver, a Menina pulou cinco vezes em cima da cama, afundando-se depois no meio de almofadas macias e rindo deste pequeno disparate que normalmente os Adultos condenam…Max também se riu. Mas se calhar riu-se para fora ou então a Menina viu uma mancha laranja a mexer-se no lado de fora da janela. De repente os olhares dos dois cruzaram-se. “Um gato!” exclamou a Menina! “Oh-Oh!” pensou o gato. E fugiu de novo para o topo da arvore. A Menina veio a correr cá para fora mas já não conseguiu perceber para onde tinha ido o gato.. foi ter com a Dona da Casa e disse: “Tia, onde é que costuma estar o Gato?” “Carolina, a Quinta tem muitos gatos. Mas não te ponhas a brincar com eles, não são nada meigos, só servem para caçar ratos e comer ração.”
Max aprendeu duas coisas: a Menina é Sobrinha da Dona da Casa e chama-se Carolina. Mas também percebeu porque é que os Humanos não simpatizam muito com Gatos e os Gatos todos da família não dão muita importância aos Humanos.
À noite, Carolina ainda espreitou a janela antes de correr as cortinas mas não viu o Gato. Nenhum Gato.
Na manhã seguinte, logo a seguir ao pequeno almoço, Carolina aproveitou uma ideia da Tia: “ Vai dar uma volta pela Quinta, tens muito que explorar…”
Durante um bom par de horas teve tempo de passear pelo Pomar, pelo Palheiro, ver as alfaces e as cenouras; dar milho às galinhas e ajudar o Senhor que Trata dos Cavalos a dar umas maçãs bravo-esmolfe ao Luso, o maior cavalo da Quinta. Enquanto roía também uma daquelas belas maçãs, pensava “O que será feito do gato?” aliás estava até intrigada por, ao longo daquele passeio não ter visto nem um único gato e a Tia tinha-lhe dito que havia imensos… “Isso é porque os gatos dormem de dia… à noite, andam por aí, aos ratos…” respondeu o Tio à Carolina que afinal estava a pensar em voz alta. “Gostava tanto de brincar com um…” confessou-lhe a sobrinha. “Isso vai ser difícil”, replicou o Tio, “Eles são muito senhores do seu nariz e só servem para caçar… se bem que ouvi dizer que há um meio alaranjado que nunca foi visto a fazer nada, a não ser estender-se ao Sol… pode ser que tenhas sorte com esse!” disse o Tio, rindo da possibilidade de um Gato brincar com um Humano.
Carolina estava decidida a encontrar o gato laranja. Porque razão o Tio teria rido? Na Casa onde vivia, na Cidade, Carolina tinha 2 gatos que brincavam imenso com ela, não havia nada de mais nessa situação. Depois do almoço seria uma boa hora para o encontrar. Todos os gatos gostam de dormir a sesta. Bem, todos os gatos gostam de dormir. Ponto final. A hora a que o fazem é totalmente indiferente. Mas baseada na experiência do Luca e da Bianca, os seus gatinhos de estimação, Carolina já sabia algumas coisas sobre estes bichanos. Só não sabia se os Gatos do Campo se comportariam de forma diferente….Ao pensar num deles a caçar um rato e a transportá-lo na boca pendurado pela cauda, ficou um bocado enjoada…. Mas tinha a certeza de que o seu futuro amigo laranja era o tal gato que nunca tinha caçado um rato! E decidiu descobrir esse gato.
Ao fim do dia, cansada de subir e descer os carreiros da Quinta, de espreitar todos os cantos, de bisbilhotar todos os possíveis esconderijos, Carolina exclamou: “Será que os Gatos do Campo são invisíveis durante o dia?” “Não… tu é que não estás a procurar nos sítios certos” disse Max, empoleirado no seu carvalho.
- Gato laranja… encontrei-te. Aliás, encontraste-me!
- Chamo-me Max. E tu és a Carolina.
- Sim. Andava à tua procura desde ontem. Porque é que fugiste?
- Tinha que fugir, estamos preparados para fugir perante o perigo.
- Eu sou um perigo? – disse Carolina , sem controlar o riso…
- Bem, és humana. E se eu não sirvo para caçar os ratos que te incomodam, então, não sirvo para mais nada; por isso não deves querer-me por perto…
- Oh Max, os gatos não servem só para caçar ratos; quem te disse isso?
- A minha Avó. E a minha Mãe. E o meu Tio, Pai, Avô… bem todos! Todos sabem que nós, gatos, se não caçamos ratos somos inúteis!! E eu sou um inútil. Não sirvo para nada.
- Não digas isso. Tenho 2 gatos em casa que nunca caçaram ratos. E são muito válidos!
- Espera lá, tens gatos… em Casa? Dentro de casa?
- Sim, claro. São de estimação. Adoro-os. Brinco imenso com eles.
Para Max, aquela conversa era a confirmação de toda a sua existência. Afinal, ERA POSSIVEL ser um gato não caçador! Havia outros exemplos, outros gatos que não caçavam. Max estava capaz de saltar para o colo de Carolina e ronronar duas horas seguidas!
- Carolina, Carolina, vem jantar. Gritou a Tia, do interior da Casa.
- Max, tenho que ir. Amanhã queres passear comigo? Encontro marcado aqui às 10 da manhã!
O dia seguinte foi maravilhoso. Carolina contou ao gato tudo aquilo que sabia sobre os gatos que viviam na cidade; Max por sua vez, ensinou-lhe muito sobre a vida numa Quinta: a importância de expulsar os roedores para que não haja doenças nem se estraguem as sementes, por exemplo. Mas também lhe contou do quanto se sentia triste por não ser nunca convidado para nada do que os outros gatos planeavam.
Carolina estava tão feliz por ter mais um amigo gato que praticamente se esquecera de que ficava na Quinta só durante as férias de Páscoa e que no Domingo seguinte já era tempo de regressar. Assim, na véspera, teve que dar a noticia ao bichano laranja. Max ficou desolado. A sua única amiga ia partir. E ele voltaria a ser um gato esquisito no meio da Quinta. Ela prometeu voltar todas as férias. Ele, escondendo com a pata uma lágrima teimosa, saltou-lhe para o colo. Despediram-se ali mesmo, para evitar um adeus no dia seguinte.
Max trepou para o alto do velho carvalho, decidido a nunca mais descer.
Nessa noite, Max não conseguiu pregar olho. Só pensava no vazio que iria ser a sua vida até às próximas férias escolares. Se ao menos tivesse um amigo com quem desabafar estas angústias….e enquanto alisava os bigodes e suspirava, ouviu um barulho. Passava-se qualquer coisa lá em baixo. A curiosidade, como é mais forte do que tudo na vida de um gato, fê-lo descer. Viu então um enorme bolo com 5 bonitas velas! Era a noite do seu aniversário! Tinha-se esquecido completamente. Aliás, nunca ninguém – gato ou humano – tivera em conta a efeméride! Só podia ser coisa da Carolina! Como é que ela descobrira?
Um a um, os gatos da Quinta apareceram e colocaram-se à volta do bolo. A Avó Nina, foi a última a surgir e a dar um beijo repenicado no focinho de Max.
- Então e a Carolina?
- A Carolina já foi. Os Donos da Casa decidiram ir de noite, acho que por causa de uma coisa chamada “trânsito”.
- Então… esta ideia não foi dela?
- Não meu querido, foi nossa. Ao longo destes dias, cada um de nós foi ouvindo pedaços das vossas conversas, espreitando as vossas brincadeiras. E fomos percebendo que afinal, não há nada de errado em não ser igual… porque tens tu que ser caçador, se não é isso que queres ser? Entendemos que um gato não-caçador tem tanto valor quanto um que o seja. Pode fazer companhia, por exemplo. Dar amizade sem pedir nada em troca. Estar sempre por perto, pronto para uns mimos e umas brincadeiras. E isso é tão ou mais importante do que correr atrás dos ratos. Max; mostraste-nos que consegues fazer coisas maravilhosas pelos outros. Outras coisas. E essa partilha é que é verdadeiramente rara. Obrigada por nos ajudares a perceber que a vida não tem que ser uma enorme perseguição aos ratos do campo.
Num cantinho, escondidos atrás de um fardo de palha, uma família de ratos celebrava também o aniversário de Max. Pelo menos esta noite, iam poder descansar.
( conto escrito para a colectanea "Histórias Raras" )
Só queremos mesmo é que as férias nos corram bem….
Que a casa que alugamos por telefone não seja afinal uma cave com kitchenette e varanda com marquise, em vez da prometida vivenda com duzentos metros quadrados e piscina.
Que as nossas crianças não berrem tanto como quando vão ao centro comercial ao domingo e exigem um chupa-chupa gigantesco ou um balão vermelho.
Que a cerveja seja sempre servida estupidamente gelada.
Que o nosso cônjuge se lembre de que somos alérgicos a camarão, quando vai fazer as compras para o almoço e ,já agora, que compre replente de insectos.
Mas queremos, sobretudo, que não haja nenhum furacão para estragar o único mês em que nos conseguimos livrar de patrões, colegas e claro, da chatice do trabalho.
É que a porcaria dos furacões conseguem mesmo dar cabo das férias de uma pessoa- estar o ano todo a amealhar, poupando aqui e ali para conseguir comprar aquela pechincha na feira de viagens:
“ A ilha quente com que sempre sonhou, praias tropicais, natureza exuberante, exóticas paisagens alaranjadas ao entardecer… Imagine o paraíso”
Ora, o paraíso não contempla uns ventos a mais de 200 km hora com nome de actor!
Por isso, compreende-se a frustação dos mais de 2000 portugueses que estavam por terras da Jamaica e arredores e sentiram que as suas férias ficaram estragadas.
Alguns tiveram sorte – um desses turistas relatava aos microfones da TSF a felicidade de ter sido “trasladado” para o outro lado da ilha e assim sendo, não ter corrido riscos. Nunca uma trasladação tinha sido feita assim, em vida! Pelo que o Entroncamento acaba de perder o monopólio dos fenómenos.
Até à hora em que escrevo estas linhas, não ouvi nenhum turista falar dos desalojados, dos mortos, dos feridos. Das condições em que o “paraíso” que os recebeu ficou, depois da tempestade. É que nem sempre se segue a bonança. Na maior parte das vezes, só o desespero de não ter tecto, agua e comida.
Por isso fico impressionada com o facto de, aparentemente, ninguém ter decidido ficar; ficar o resto das férias no território para ajudar no que for preciso. É que nem é obrigatório ser-se profissional de saúde – haverá portas e telhados para arranjar; roupa e vidros para lavar; crianças a quem dar um colo.
Não. O ideal foi ter um avião para transporte imediato para casa. Para terra firme e segura. Para a frente das câmaras de televisão onde vão falar daquela extraordinaria experiência. Para receber os abraços e gritinhos histéricos da prima que os vai buscar à Portela. Aproveitar e ainda reclamar das malas terem demorado mais de hora e meia nos tapetes- é que ainda havia uns dias de férias para disfrutar numa praia qualquer – com cerveja quente, miúdos aos berros e picadas de mosquitos. Poderá não ser a tal “ilha com que sempre se sonhou”, e a nada em volta se aplicar os adjectivos “exuberante e tropical”. A exótica paisagem alaranjada é substituída pelo néon fluorescente do shopping… mas pelo menos não há furacões nem gente à volta a chorar porque perdeu o filho ou a casa.
Isto sim, é o paraíso.
( escrito em agosto, depois de um Furacão ter assolado a Jamaica)
Que a casa que alugamos por telefone não seja afinal uma cave com kitchenette e varanda com marquise, em vez da prometida vivenda com duzentos metros quadrados e piscina.
Que as nossas crianças não berrem tanto como quando vão ao centro comercial ao domingo e exigem um chupa-chupa gigantesco ou um balão vermelho.
Que a cerveja seja sempre servida estupidamente gelada.
Que o nosso cônjuge se lembre de que somos alérgicos a camarão, quando vai fazer as compras para o almoço e ,já agora, que compre replente de insectos.
Mas queremos, sobretudo, que não haja nenhum furacão para estragar o único mês em que nos conseguimos livrar de patrões, colegas e claro, da chatice do trabalho.
É que a porcaria dos furacões conseguem mesmo dar cabo das férias de uma pessoa- estar o ano todo a amealhar, poupando aqui e ali para conseguir comprar aquela pechincha na feira de viagens:
“ A ilha quente com que sempre sonhou, praias tropicais, natureza exuberante, exóticas paisagens alaranjadas ao entardecer… Imagine o paraíso”
Ora, o paraíso não contempla uns ventos a mais de 200 km hora com nome de actor!
Por isso, compreende-se a frustação dos mais de 2000 portugueses que estavam por terras da Jamaica e arredores e sentiram que as suas férias ficaram estragadas.
Alguns tiveram sorte – um desses turistas relatava aos microfones da TSF a felicidade de ter sido “trasladado” para o outro lado da ilha e assim sendo, não ter corrido riscos. Nunca uma trasladação tinha sido feita assim, em vida! Pelo que o Entroncamento acaba de perder o monopólio dos fenómenos.
Até à hora em que escrevo estas linhas, não ouvi nenhum turista falar dos desalojados, dos mortos, dos feridos. Das condições em que o “paraíso” que os recebeu ficou, depois da tempestade. É que nem sempre se segue a bonança. Na maior parte das vezes, só o desespero de não ter tecto, agua e comida.
Por isso fico impressionada com o facto de, aparentemente, ninguém ter decidido ficar; ficar o resto das férias no território para ajudar no que for preciso. É que nem é obrigatório ser-se profissional de saúde – haverá portas e telhados para arranjar; roupa e vidros para lavar; crianças a quem dar um colo.
Não. O ideal foi ter um avião para transporte imediato para casa. Para terra firme e segura. Para a frente das câmaras de televisão onde vão falar daquela extraordinaria experiência. Para receber os abraços e gritinhos histéricos da prima que os vai buscar à Portela. Aproveitar e ainda reclamar das malas terem demorado mais de hora e meia nos tapetes- é que ainda havia uns dias de férias para disfrutar numa praia qualquer – com cerveja quente, miúdos aos berros e picadas de mosquitos. Poderá não ser a tal “ilha com que sempre se sonhou”, e a nada em volta se aplicar os adjectivos “exuberante e tropical”. A exótica paisagem alaranjada é substituída pelo néon fluorescente do shopping… mas pelo menos não há furacões nem gente à volta a chorar porque perdeu o filho ou a casa.
Isto sim, é o paraíso.
( escrito em agosto, depois de um Furacão ter assolado a Jamaica)
Sempre gostei do número sete. Talvez por ter nascido em SETEmbro.
Estamos agora no mes sete, do ano de 2007. As sete novas maravilhas já aí estão – em Portugal e no Mundo.
A pesquisa à volta da simbologia deste algarismo leva-nos ao infinito… das cores do arco-íris às notas musicais, passando pela Bíblia onde este é também um número importante; basta olhar para o livro do Apocalipse para encontrar o denominador comum: pragas, igrejas, selos, anjos, montes, cabeças, trombetas, taças… sempre sete.
Recorrendo ainda ao livro sagrado, não resisto a outra palavra ligada quase visceralmente a este aparentemente fatídico número: pecados, sete pecados.
E é muito antes dos versículos finais que se encontra uma explicação das sete acções que realmente são odiadas – até por Deus: Olhos altivos, língua mentirosa, mäos que derramam sangue inocente, coraçäo que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal, a testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmäos. (Livro de provérbios 6, 16-19)
Convencionou-se, portanto, concentrar todos os pecados numa lista de sete capitais opostos a sete virtudes : o orgulho por oposição à humildade; a inveja contrária à caridade; a gula esquecendo a temperança; a luxúria dominando a castidade; a ira sobreposta à paciencia; a ganância oposta à generosidade e a preguiça em vez da diligencia.
Pergunto-me se será coincidência, em pleno ano sete, do século XXI, estarmos a celebrar o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, tentando sensibilizar as pessoas para a não discriminação….
Será que por detrás destas discriminações estarão os novos pecados do século?
1 – género
Na Europa as mulheres recebem em média 15% menos no seu salário, desempenhando as mesmas funções que os homens. Ocupam ainda menos de um quarto dos assentos parlamentares na União Europeia.
2-idade
Os trabalhadores mais velhos têm uma taxa de emprego de apenas 40% . Também os mais jovens são vitimas de propostas de empregos precários e a taxa de desemprego é mais do dobro da média global europeia.
3- etnia
Os imigrantes e as minorias étnicas são muitas vezes obrigados a viver áreas menos favorecidas sendo duplamente confrontados a exclusão social – devido ao local onde vivem ou à sua etnia.
4- religião
Um crente de uma minoria religiosa vê muitas vezes desrespeitadas as suas opções e até mesmo as suas obrigações sendo discriminado por orar ou jejuar em determinadas alturas ou simplesmente pela sua indumentária.
5- deficiencia
Cerca de 10% da população da União europeia é portador de uma deficiência. Raramente são atribuídos cargos de responsabilidade ou até tarefas simples a pessoas que estejam, por exemplo, numa cadeira de rodas ou que não consigam ouvir.
6- orientação sexual
Mais de metade da população lésbica, gay, bissexual e transexual da Europa já foi de preconceito ou descriminação nas escolas ou no seio familiar chegando muitos deles a cometer suicídio por não aguentar a pressão
E falta um. Para chegar ao cabalístico sete, acho que juntaria o
simples facto de… não ser igual:
ser mais gordo ou mais magro, mais alto ou mais baixo, ser bonito ou nem por isso, ter uma borbulha no nariz, uma orelha maior do que a outra, um olho de cada cor, vestir roupa muito larga ou muito justa, ter piercings ou não ter, usar cabelo rapado ou em rastas.
Afinal, aquilo que nos distingue do próximo, que nos transforma num Ser Humano único, é muitas vezes aquilo que também mais nos afasta.
Estamos agora no mes sete, do ano de 2007. As sete novas maravilhas já aí estão – em Portugal e no Mundo.
A pesquisa à volta da simbologia deste algarismo leva-nos ao infinito… das cores do arco-íris às notas musicais, passando pela Bíblia onde este é também um número importante; basta olhar para o livro do Apocalipse para encontrar o denominador comum: pragas, igrejas, selos, anjos, montes, cabeças, trombetas, taças… sempre sete.
Recorrendo ainda ao livro sagrado, não resisto a outra palavra ligada quase visceralmente a este aparentemente fatídico número: pecados, sete pecados.
E é muito antes dos versículos finais que se encontra uma explicação das sete acções que realmente são odiadas – até por Deus: Olhos altivos, língua mentirosa, mäos que derramam sangue inocente, coraçäo que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal, a testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmäos. (Livro de provérbios 6, 16-19)
Convencionou-se, portanto, concentrar todos os pecados numa lista de sete capitais opostos a sete virtudes : o orgulho por oposição à humildade; a inveja contrária à caridade; a gula esquecendo a temperança; a luxúria dominando a castidade; a ira sobreposta à paciencia; a ganância oposta à generosidade e a preguiça em vez da diligencia.
Pergunto-me se será coincidência, em pleno ano sete, do século XXI, estarmos a celebrar o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, tentando sensibilizar as pessoas para a não discriminação….
Será que por detrás destas discriminações estarão os novos pecados do século?
1 – género
Na Europa as mulheres recebem em média 15% menos no seu salário, desempenhando as mesmas funções que os homens. Ocupam ainda menos de um quarto dos assentos parlamentares na União Europeia.
2-idade
Os trabalhadores mais velhos têm uma taxa de emprego de apenas 40% . Também os mais jovens são vitimas de propostas de empregos precários e a taxa de desemprego é mais do dobro da média global europeia.
3- etnia
Os imigrantes e as minorias étnicas são muitas vezes obrigados a viver áreas menos favorecidas sendo duplamente confrontados a exclusão social – devido ao local onde vivem ou à sua etnia.
4- religião
Um crente de uma minoria religiosa vê muitas vezes desrespeitadas as suas opções e até mesmo as suas obrigações sendo discriminado por orar ou jejuar em determinadas alturas ou simplesmente pela sua indumentária.
5- deficiencia
Cerca de 10% da população da União europeia é portador de uma deficiência. Raramente são atribuídos cargos de responsabilidade ou até tarefas simples a pessoas que estejam, por exemplo, numa cadeira de rodas ou que não consigam ouvir.
6- orientação sexual
Mais de metade da população lésbica, gay, bissexual e transexual da Europa já foi de preconceito ou descriminação nas escolas ou no seio familiar chegando muitos deles a cometer suicídio por não aguentar a pressão
E falta um. Para chegar ao cabalístico sete, acho que juntaria o
simples facto de… não ser igual:
ser mais gordo ou mais magro, mais alto ou mais baixo, ser bonito ou nem por isso, ter uma borbulha no nariz, uma orelha maior do que a outra, um olho de cada cor, vestir roupa muito larga ou muito justa, ter piercings ou não ter, usar cabelo rapado ou em rastas.
Afinal, aquilo que nos distingue do próximo, que nos transforma num Ser Humano único, é muitas vezes aquilo que também mais nos afasta.
segunda-feira, julho 02, 2007
Um homem branco, calvo e com evidentes quilos a mais, olha para o vizinho negro e diz “ pianinho, senão ainda voltas para a tua terra”. Este por sua vez, repara numa fila de desempregados e assume “Se quisessem arranjavam todos um trabalho ”. Na mesma fila, dois homens atiram uns piropos machistas a uma mulher que passa. Esta, olha de lado o casal homossexual que atravessa a rua de mão dada e pensa que é preciso muita lata. Eles comentam entre si o véu islâmico de uma outra mulher que passeia o filho “Ao menos podia fazer um esforço para se integrar”. O miúdo, por sua vez, aponta para o homem branco, calvo e com evidentes quilos a mais e exclama: “ Olha, aquele senhor tão gordo!”
A isto chama-se racismo em cadeia- este é pelo menos o titulo de uma história incluída num livro em banda desenhada editado pela Comissão Europeia. São muitas as situações do dia a dia em que, muitas vezes inconscientemente, o nosso discurso roça a intolerância. Reflicta bem sobre quantas frases por dia utiliza e que são discriminatórias.
No transito, nunca se irritou por aquele “velhote” ir à sua frente a 20 à hora? Num negócio, nunca teve tendência a chamar “cigano” ao vendedor? Ao fim de semana, não acha “normal” o homem ir à bola e a mulher ficar a fazer o jantar? E chamar "def..."(iciente) a um colega que não conseguiu concluir uma tarefa?
Desde o ano 2000, que as Leis Europeias para a Igualdade consagram ilegal a discriminação- com base na raça ou etnia, orientação sexual, religião, crença, género, deficiência ou idade. No entanto, as mentalidades não se mudam por decreto . Daí o meu desejo para que neste Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos e para Todas, cada um de nós aproveite esta hipótese de mudar as nossas frases. as nossas atitudes. no fundo, os nossos corações.
A isto chama-se racismo em cadeia- este é pelo menos o titulo de uma história incluída num livro em banda desenhada editado pela Comissão Europeia. São muitas as situações do dia a dia em que, muitas vezes inconscientemente, o nosso discurso roça a intolerância. Reflicta bem sobre quantas frases por dia utiliza e que são discriminatórias.
No transito, nunca se irritou por aquele “velhote” ir à sua frente a 20 à hora? Num negócio, nunca teve tendência a chamar “cigano” ao vendedor? Ao fim de semana, não acha “normal” o homem ir à bola e a mulher ficar a fazer o jantar? E chamar "def..."(iciente) a um colega que não conseguiu concluir uma tarefa?
Desde o ano 2000, que as Leis Europeias para a Igualdade consagram ilegal a discriminação- com base na raça ou etnia, orientação sexual, religião, crença, género, deficiência ou idade. No entanto, as mentalidades não se mudam por decreto . Daí o meu desejo para que neste Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos e para Todas, cada um de nós aproveite esta hipótese de mudar as nossas frases. as nossas atitudes. no fundo, os nossos corações.
Grátis, grátis!!
Picasso, Duchamp, Magritte, Francis Bacon, Andy Warhol, Paula Rego, Vieira da Silva, entre outros. Todos juntos num mesmo espaço: no novo museu Colecção Berardo. Em apenas 30 horas, quase 30 mil visitantes- numa matemática simples, praticamente mil pessoas por hora a chegar ao CCB, para ver, gratuitamente, esta mostra de Arte Moderna e Contemporânea, organizada por Jean-François Chougnet,
São, infelizmente, raros os casos em que se registam enchentes por causa de um evento com um carácter eminentemente cultural. Lembro-me das filas à porta da Gulbenkian, para ver Amadeo Souza Cardoso. São poucos mas são dias que provam que nem só um derby ou a tentativa de bater um qualquer record do Guiness, levam a população a sair de casa. 316 milhões de euros à vista de todos. Será que foi por isto? Uma OPA ao Benfica poucos dias antes. Curiosidade dos adeptos da águia? Ou será só… por ser à borla? A razão não parece ser fundamental. Fundamental é mesmo tirar as famílias dos centros comerciais e colocá-las em centros culturais! Respirar arte, partilhar diversidade. Mostrar aos miúdos os quadros de Miró para depois fazerem desenhos inspirados no senhor pintor espanhol.
Não há prática cultural que resista a um baixo índice educacional. Por isso impera conhecer um pouco de tudo o que seja expressão artística : pintura, escultura, fotografia, concertos. Querendo, há formulas gratuitas para aceder a um mundo que outrora já foi considerado elitista.
Picasso, Duchamp, Magritte, Francis Bacon, Andy Warhol, Paula Rego, Vieira da Silva, entre outros. Todos juntos num mesmo espaço: no novo museu Colecção Berardo. Em apenas 30 horas, quase 30 mil visitantes- numa matemática simples, praticamente mil pessoas por hora a chegar ao CCB, para ver, gratuitamente, esta mostra de Arte Moderna e Contemporânea, organizada por Jean-François Chougnet,
São, infelizmente, raros os casos em que se registam enchentes por causa de um evento com um carácter eminentemente cultural. Lembro-me das filas à porta da Gulbenkian, para ver Amadeo Souza Cardoso. São poucos mas são dias que provam que nem só um derby ou a tentativa de bater um qualquer record do Guiness, levam a população a sair de casa. 316 milhões de euros à vista de todos. Será que foi por isto? Uma OPA ao Benfica poucos dias antes. Curiosidade dos adeptos da águia? Ou será só… por ser à borla? A razão não parece ser fundamental. Fundamental é mesmo tirar as famílias dos centros comerciais e colocá-las em centros culturais! Respirar arte, partilhar diversidade. Mostrar aos miúdos os quadros de Miró para depois fazerem desenhos inspirados no senhor pintor espanhol.
Não há prática cultural que resista a um baixo índice educacional. Por isso impera conhecer um pouco de tudo o que seja expressão artística : pintura, escultura, fotografia, concertos. Querendo, há formulas gratuitas para aceder a um mundo que outrora já foi considerado elitista.
domingo, maio 27, 2007
Pode ler-se, entre outros artigos dos Direitos da Criança que “…a criança, para o desenvolvimento harmonioso da sua personalidade, tem necessidade de amor e compreensão. Deve, tanto quanto possível, crescer sob a salvaguarda e sob a responsabilidade dos pais, e, em qualquer caso, numa atmosfera de afecto e de segurança moral e material…”
Madeleine McCann, na inocência dos seus 4 anos, nunca deve ter ouvido falar de direitos da criança. Mas deve ter tido sempre- como qualquer miúdo – a necessidade de amor, carinho, colo, segurança.
Na noite em que desapareceu faltou este aspecto tão importante: a segurança.
Dormia descansada ao lado dos irmãos, para acordar de manhãzinha, pronta para mais um dia com brincadeiras na areia e chapinhar nas ondas do Algarve.
No seu sono profundo não sabia que os pais tinham saído de casa para jantar a escassos metros dali… (qual é a distância mínima de segurança , afinal? )
Sonharia com outras coisas, mas certamente não sonhava que isto poderia acontecer.
Nestas idades, sonha-se com princesas, castelos, fadas, reinos de faz de conta.
E se por acaso aparece um pesadelo com uma bruxa má, um bicho papão ou um monstro com escamas, acorda-se e chama-se a mãe ou o pai.
Se calhar, Madeleine acordou e viu um destes “maus” mesmo ao lado da cama dela… e também chamou “Mummy…Daddy” … mas nenhum deles estava suficientemente perto.
Madeleine McCann, na inocência dos seus 4 anos, nunca deve ter ouvido falar de direitos da criança. Mas deve ter tido sempre- como qualquer miúdo – a necessidade de amor, carinho, colo, segurança.
Na noite em que desapareceu faltou este aspecto tão importante: a segurança.
Dormia descansada ao lado dos irmãos, para acordar de manhãzinha, pronta para mais um dia com brincadeiras na areia e chapinhar nas ondas do Algarve.
No seu sono profundo não sabia que os pais tinham saído de casa para jantar a escassos metros dali… (qual é a distância mínima de segurança , afinal? )
Sonharia com outras coisas, mas certamente não sonhava que isto poderia acontecer.
Nestas idades, sonha-se com princesas, castelos, fadas, reinos de faz de conta.
E se por acaso aparece um pesadelo com uma bruxa má, um bicho papão ou um monstro com escamas, acorda-se e chama-se a mãe ou o pai.
Se calhar, Madeleine acordou e viu um destes “maus” mesmo ao lado da cama dela… e também chamou “Mummy…Daddy” … mas nenhum deles estava suficientemente perto.
Ao longo deste mês de Maio, o Rádio Clube Português abraçou uma causa – a luta contra a fome. Todas as manhãs, João Adelino Faria e a sua equipa trazem-nos histórias de gente que, em Portugal, passa fome. Pessoas que vivem no limiar da pobreza, deitando-se muitas vezes de estômago vazio. Uns perderam os empregos, as familias, os amigos. A esperança. No entanto, a história que ouvi ontem tocou-me ainda mais do que todas as outras, porque nada disto se tinha perdido. Uma familia numerosa, a viver no Cacém: Pai, Mãe, dez filhos que vivem com um rendimento minimo. Sandra, a filha mais velha, conta-nos como a palavra proibida era “desperdicio”- o que restava do almoço fornecido pela escola era levado para casa para os aconchegar ao jantar. Carne, só de porco, com os ossos a voltar para a panela para dar corpo às sopas – estas sempre: graças à horta que lhes fornece feijão verde, couves e batatas.Algumas sardinhas e carapaus. Em “dias de festa”, o pai comprava pão de deus, com côco por cima, e dividia-o pelos irmãos. Gelados, só uma vez por ano – apesar de aos fins de semana, o pai também os vender para amealhar mais uns trocos. Os filhos foram arranjando empregos, mesmo em idades precoces. Mas todos os sacrificios para manter a familia unida, valeram a pena. Sandra imagina-se a ter também muitos filhos. Porque havendo amor e imaginação, reconhece (e faz-nos recordar) não é o dinheiro que traz a felicidade
domingo, abril 22, 2007
Num semáforo: entregam-lhe um jornal, tentam lavar-lhe os vidros ou -como me aconteceu ontem- um jovem faz uma demonstração de malabarismo – impressionante, a merecer mais palmas do que moedas. Mas, em geral, aproxima-se do seu carro uma jovem com uma criança ao colo pedinchando alguma coisa. Confesso que neste caso, a minha primeira preocupação vai para a coluna vertebral daquelas crianças- não só as que andam (às vezes horas) ao colo mas também as que as transportam, já que muitas vezes só diferem em meia dúzia de anos da que vão carregando de sinal em sinal…
Qual é o seu primeiro instinto? Receio de um assalto, devido ao saturante número de e-mails que recebe dando conta de “ataques destes gangs de emigrantes, nos semáforos ?” – exemplo claro destes tempos em que a xenofobia prolifera em mensagens sem fonte fidedigna através da Internet…
Indignação, perante esta clara violação dos direitos das crianças, que deviam estar na escola, a aprender e a brincar- em vez de serem usadas repetidamente como instrumento de mendicidade?
Talvez sinta algo mais forte: vergonha, desprezo? Analise por uns minutos qual é o seu real posicionamento em relação a estas pessoas que estão ali, vulneráveis, do outro lado do vidro. A tomada de consciência perante a nossa vida- e a dos outros- acontece muitas vezes assim: no curto espaço de tempo entre o vermelho e o verde.
Qual é o seu primeiro instinto? Receio de um assalto, devido ao saturante número de e-mails que recebe dando conta de “ataques destes gangs de emigrantes, nos semáforos ?” – exemplo claro destes tempos em que a xenofobia prolifera em mensagens sem fonte fidedigna através da Internet…
Indignação, perante esta clara violação dos direitos das crianças, que deviam estar na escola, a aprender e a brincar- em vez de serem usadas repetidamente como instrumento de mendicidade?
Talvez sinta algo mais forte: vergonha, desprezo? Analise por uns minutos qual é o seu real posicionamento em relação a estas pessoas que estão ali, vulneráveis, do outro lado do vidro. A tomada de consciência perante a nossa vida- e a dos outros- acontece muitas vezes assim: no curto espaço de tempo entre o vermelho e o verde.
Diz-me o que comes
Já não há dúvidas: os nossos filhos estão a ficar gordinhos. E isto porquê? Porque nós deixámos. Antigamente, os nossos lanches eram preparados em casa; da merenda constava sempre pão com queijo ou marmelada caseira, uma maçã, pêra ou banana, um pacote de leite- coisas simples, embrulhadas num guardanapo de pano ou dentro de uma lancheira que nos acompanhava durante o recreio, com protagonismo igual ao da corda ou do elástico, dos piões, berlindes e das sameiras ( caricas aqui no Sul).
Agora, não temos tempo para preparar um lanche, muito menos para embrulhá-lo num guardanapo ( de papel, claro). Os nossos miúdos levam dinheiro e aviam-se nos bares da escola. E que oferta têm esses bares? Bem, vocês sabem. Basta olhar à volta quando engolimos à pressa uma meia de leite e um queque. Sabe o que significa para o organismo dos nossos filhos uma dose diária de refrigerante+pacote de snacks salgados+bolo com recheio? Muito açúcar, muito sal, pouco ou nenhum exercício- eis uma equação explosiva para todos, também para os mais novos.
Os bons hábitos alimentares adquirem-se desde cedo- se aprendem a lavar os dentes e a comer de faca e garfo, também aprenderão o significado da palavra CALORIAS. Não que tenhamos que criar uma geração maníaca da balança, viciada em produtos light ….mas pelo menos, criemos uma geração que não corra o risco de morrer antes da nossa.
Já não há dúvidas: os nossos filhos estão a ficar gordinhos. E isto porquê? Porque nós deixámos. Antigamente, os nossos lanches eram preparados em casa; da merenda constava sempre pão com queijo ou marmelada caseira, uma maçã, pêra ou banana, um pacote de leite- coisas simples, embrulhadas num guardanapo de pano ou dentro de uma lancheira que nos acompanhava durante o recreio, com protagonismo igual ao da corda ou do elástico, dos piões, berlindes e das sameiras ( caricas aqui no Sul).
Agora, não temos tempo para preparar um lanche, muito menos para embrulhá-lo num guardanapo ( de papel, claro). Os nossos miúdos levam dinheiro e aviam-se nos bares da escola. E que oferta têm esses bares? Bem, vocês sabem. Basta olhar à volta quando engolimos à pressa uma meia de leite e um queque. Sabe o que significa para o organismo dos nossos filhos uma dose diária de refrigerante+pacote de snacks salgados+bolo com recheio? Muito açúcar, muito sal, pouco ou nenhum exercício- eis uma equação explosiva para todos, também para os mais novos.
Os bons hábitos alimentares adquirem-se desde cedo- se aprendem a lavar os dentes e a comer de faca e garfo, também aprenderão o significado da palavra CALORIAS. Não que tenhamos que criar uma geração maníaca da balança, viciada em produtos light ….mas pelo menos, criemos uma geração que não corra o risco de morrer antes da nossa.
sábado, abril 14, 2007
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajecto, quem não muda as marcas no supermercado, não arrisca vestir uma cor nova, não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Pablo Neruda
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajecto, quem não muda as marcas no supermercado, não arrisca vestir uma cor nova, não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Pablo Neruda
sexta-feira, abril 06, 2007
Revista Perspectiva I
Há três anos passei a fazer parte da equipa de voluntários que integra “A Hora do conto” da Fundação do Gil. E de cada vez que chego aos hospitais, sei que vou ter uma hora… cheia! Cheia de partilha, de risos, de histórias ... E no meio de uma semana atarefada, há este “balão de oxigénio”, onde me sinto sempre melhor. Porque gosto de ser voluntária; porque gosto de ajudar os outros mesmo que seja através de uma história. Quando me desafiaram para escrever esta página, decidi que seria igualmente para contar histórias… mas nem sempre daquelas cor de rosa, em reinos encantados. Estas serão perspectivas que pouco ou nada têm a ver com o Era uma vez, apesar de, por vezes, até terem finais felizes….
Mukhtaran Bibi é uma jovem que vive algures em Punjab, no Paquistão, numa pequena aldeia onde as decisões importantes são tomadas por uma assembleia – totalmente composta por homens.
Há cinco anos, o seu irmão mais novo cometeu, aparentemente, um delito grave: seduziu a filha do chefe de uma outra tribo, coisa que naquele meio é uma desonra que requer imediatamente de um pedido de perdão. Mas este perdão não se pede através de um mero envio de flores e respectivo cartão de desculpas. Passa pela humilhação de uma mulher da família – neste caso a irmã mais velha – de joelhos e cabeça baixa, perante o olhar e as armas dos “ofendidos”. Mas, naquele dia, essa atitude não chegou para limpar a honra manchada. E a justiça tribal ditou então que ela teria que ser colectivamente violada. A “sentença” foi de imediato posta em prática. Mukhtaran foi arrastada para o local onde quatro homens “executaram” a tarefa. Depois, foi mandada de volta para a sua aldeia, praticamente nua, perante o olhar grave dos habitantes.
O desfecho “natural” desta história aconteceria já neste parágrafo. Mukhtaran, como muitas outras mulheres vitimas destes julgamentos, iria suicidar-se passado alguns dias para não trazer mais vergonha para o seio da sua família. Mas quis o destino que esta mulher fosse diferente; em vez de decidir morrer, ganhou coragem para fazer aquilo que poucas fazem – nestas e noutras situações de violência: denunciou.
Sempre com o apoio da mãe, apresentou o caso à polícia, aos tribunais oficiais. Foi perseguida e ameaçada. A história chegou no entanto à imprensa que rapidamente espalhou a notícia por todo o mundo. Em Primeira Instância, venceu. Todos os seus violadores foram condenados à morte. No Recurso, foram libertados. Agora em Supremo, os “justiceiros da honra” aguardam a sentença, mas detidos.
O governo do Paquistão, receoso da imagem que esta história pudesse passar do País, tentou dissuadi-la. Ofereceu uma indeminização para reparar os danos. Mukhtaran usou o dinheiro para abrir uma escola onde as meninas da aldeia onde nascera pudessem, ao contrário dela, ter acesso a educação. E uma pessoa com educação, informada, conhece os seus direitos e pode lutar por eles. Hoje em dia já são três as escolas que dirige com mais de uma dúzia de professores que voluntariamente ensinam - rapazes e raparigas - a ler e a escrever, a contar e a falar inglês. Apesar de levar a sua história a lugares onde as mulheres continuam a viver submissas perante uma lei de homens- para demonstrar que há uma Lei superior a essa - nunca deixou a sua aldeia para ter a certeza que os “seus” 700 alunos e alunas aprendem o real significado da expressão «direitos humanos». Nomeadamente, os filhos dos seus violadores, que na escola de Mukhtaran aprendem a respeitar as meninas da aldeia.
Mukhtaran é um símbolo. Venceu, no passado dia 19 de Março, o Prémio Norte-Sul, atribuído anualmente pelo Conselho da Europa, desde 1995, a duas personalidades que se destacaram na protecção dos direitos humanos. O outro vencedor foi o Padre Francisco Van Der Hoff pelo seu trabalho com o Comércio Justo. Mas esta é outra história….
Para saber mais: www.mukhtarmaiwwo.org/
Há três anos passei a fazer parte da equipa de voluntários que integra “A Hora do conto” da Fundação do Gil. E de cada vez que chego aos hospitais, sei que vou ter uma hora… cheia! Cheia de partilha, de risos, de histórias ... E no meio de uma semana atarefada, há este “balão de oxigénio”, onde me sinto sempre melhor. Porque gosto de ser voluntária; porque gosto de ajudar os outros mesmo que seja através de uma história. Quando me desafiaram para escrever esta página, decidi que seria igualmente para contar histórias… mas nem sempre daquelas cor de rosa, em reinos encantados. Estas serão perspectivas que pouco ou nada têm a ver com o Era uma vez, apesar de, por vezes, até terem finais felizes….
Mukhtaran Bibi é uma jovem que vive algures em Punjab, no Paquistão, numa pequena aldeia onde as decisões importantes são tomadas por uma assembleia – totalmente composta por homens.
Há cinco anos, o seu irmão mais novo cometeu, aparentemente, um delito grave: seduziu a filha do chefe de uma outra tribo, coisa que naquele meio é uma desonra que requer imediatamente de um pedido de perdão. Mas este perdão não se pede através de um mero envio de flores e respectivo cartão de desculpas. Passa pela humilhação de uma mulher da família – neste caso a irmã mais velha – de joelhos e cabeça baixa, perante o olhar e as armas dos “ofendidos”. Mas, naquele dia, essa atitude não chegou para limpar a honra manchada. E a justiça tribal ditou então que ela teria que ser colectivamente violada. A “sentença” foi de imediato posta em prática. Mukhtaran foi arrastada para o local onde quatro homens “executaram” a tarefa. Depois, foi mandada de volta para a sua aldeia, praticamente nua, perante o olhar grave dos habitantes.
O desfecho “natural” desta história aconteceria já neste parágrafo. Mukhtaran, como muitas outras mulheres vitimas destes julgamentos, iria suicidar-se passado alguns dias para não trazer mais vergonha para o seio da sua família. Mas quis o destino que esta mulher fosse diferente; em vez de decidir morrer, ganhou coragem para fazer aquilo que poucas fazem – nestas e noutras situações de violência: denunciou.
Sempre com o apoio da mãe, apresentou o caso à polícia, aos tribunais oficiais. Foi perseguida e ameaçada. A história chegou no entanto à imprensa que rapidamente espalhou a notícia por todo o mundo. Em Primeira Instância, venceu. Todos os seus violadores foram condenados à morte. No Recurso, foram libertados. Agora em Supremo, os “justiceiros da honra” aguardam a sentença, mas detidos.
O governo do Paquistão, receoso da imagem que esta história pudesse passar do País, tentou dissuadi-la. Ofereceu uma indeminização para reparar os danos. Mukhtaran usou o dinheiro para abrir uma escola onde as meninas da aldeia onde nascera pudessem, ao contrário dela, ter acesso a educação. E uma pessoa com educação, informada, conhece os seus direitos e pode lutar por eles. Hoje em dia já são três as escolas que dirige com mais de uma dúzia de professores que voluntariamente ensinam - rapazes e raparigas - a ler e a escrever, a contar e a falar inglês. Apesar de levar a sua história a lugares onde as mulheres continuam a viver submissas perante uma lei de homens- para demonstrar que há uma Lei superior a essa - nunca deixou a sua aldeia para ter a certeza que os “seus” 700 alunos e alunas aprendem o real significado da expressão «direitos humanos». Nomeadamente, os filhos dos seus violadores, que na escola de Mukhtaran aprendem a respeitar as meninas da aldeia.
Mukhtaran é um símbolo. Venceu, no passado dia 19 de Março, o Prémio Norte-Sul, atribuído anualmente pelo Conselho da Europa, desde 1995, a duas personalidades que se destacaram na protecção dos direitos humanos. O outro vencedor foi o Padre Francisco Van Der Hoff pelo seu trabalho com o Comércio Justo. Mas esta é outra história….
Para saber mais: www.mukhtarmaiwwo.org/
sábado, março 24, 2007
Mudar....
Já mudei de casa mais de 12 vezes. Os amigos mais recentes não acreditam; os de sempre já nem ligam- habituaram-se a este espirito nómada, de quem não aceita ficar refém de paredes. Acredito que “mudar” é uma atitude tão coerente quanto “não mudar”- há os que não mudam e pronto. Acomodam-se, aceitam os factos, vivendo sem nada que perturbe a tranquila passagem do tempo...Quantas vezes podíamos ter seguido outro caminho e não o fizemos com medo de perder algo importante ( e mais vale um pássaro na mão...); E quantas outras vezes negámos o nosso primeiro instinto que nos diz :“Faz” porque a voz da consciente racionalidade nos avisa:”Vai correr mal!” (e quem te avisa...). E o que nos leva a desistir de coisas que nos fazem sentir bem porque achamos “que não há sol que sempre dure...” e por isso é melhor ir já para dentro. O desafio para este dia, para os próximos dias, para a vida é: Mudar! Reeducar os sentidos; alterar a forma de encarar a própria Mudança- a maneira como pensamos, vivenciamos e falamos sobre Mudança. Usar provérbios inventados por nós que sirvam de mensagens para hoje, em vez dos adágios de outrora.
E leve já este no bolso: “Quem muitas vezes (de casa) mudar, terá muitas histórias para contar!”
Já mudei de casa mais de 12 vezes. Os amigos mais recentes não acreditam; os de sempre já nem ligam- habituaram-se a este espirito nómada, de quem não aceita ficar refém de paredes. Acredito que “mudar” é uma atitude tão coerente quanto “não mudar”- há os que não mudam e pronto. Acomodam-se, aceitam os factos, vivendo sem nada que perturbe a tranquila passagem do tempo...Quantas vezes podíamos ter seguido outro caminho e não o fizemos com medo de perder algo importante ( e mais vale um pássaro na mão...); E quantas outras vezes negámos o nosso primeiro instinto que nos diz :“Faz” porque a voz da consciente racionalidade nos avisa:”Vai correr mal!” (e quem te avisa...). E o que nos leva a desistir de coisas que nos fazem sentir bem porque achamos “que não há sol que sempre dure...” e por isso é melhor ir já para dentro. O desafio para este dia, para os próximos dias, para a vida é: Mudar! Reeducar os sentidos; alterar a forma de encarar a própria Mudança- a maneira como pensamos, vivenciamos e falamos sobre Mudança. Usar provérbios inventados por nós que sirvam de mensagens para hoje, em vez dos adágios de outrora.
E leve já este no bolso: “Quem muitas vezes (de casa) mudar, terá muitas histórias para contar!”
Há dias, uma mulher morreu na sequência de um ataque de quatro cães arraçados de rottweiler.
Eu sempre tive medo de cães. Ainda miúda, fui atacada por um, pequeno e mal disposto, que me mordeu em ambas as pernas. Fiquei verdadeiramente traumatizada a ponto de, durante anos, nem poder sequer ver um cão. Todos sabiam da existência daquele rafeirote que, assim que via uma criança a correr, partia para o ataque. E todos sabiam quem era o dono – um outro rafeirote mas de raça humana. Que agredia aqueles que se fossem lá queixar do cão para depois bater também no bicho. Nesse dia fiquei com medo de cães mas fiquei ainda com mais medo do dono.
A lei portuguesa consagra sete raças potencialmente perigosas e ainda animais que causem ferimentos em pessoas ou noutros animais que representem um risco, devido ao sue comportamento agressivo. Será que “dono irresponsável, agressor do próprio animal, que estimula actos violentos do cão perante terceiros” não deveria estar também consagrado nesta lei?
PS: Duas raças portuguesas foram incluídas na lista italiana de cães perigosos : os Serra da Estrela e os Rafeiros Alentejanos. A ignorância levou a que muitos destes belíssimos animais fossem imediatamente abandonados, também em Portugal. Em defesa dos Serra, só posso dizer que foi através de um ( o Mambo ) que retomei a minha amizade com os cães, há quase dez anos.
Eu sempre tive medo de cães. Ainda miúda, fui atacada por um, pequeno e mal disposto, que me mordeu em ambas as pernas. Fiquei verdadeiramente traumatizada a ponto de, durante anos, nem poder sequer ver um cão. Todos sabiam da existência daquele rafeirote que, assim que via uma criança a correr, partia para o ataque. E todos sabiam quem era o dono – um outro rafeirote mas de raça humana. Que agredia aqueles que se fossem lá queixar do cão para depois bater também no bicho. Nesse dia fiquei com medo de cães mas fiquei ainda com mais medo do dono.
A lei portuguesa consagra sete raças potencialmente perigosas e ainda animais que causem ferimentos em pessoas ou noutros animais que representem um risco, devido ao sue comportamento agressivo. Será que “dono irresponsável, agressor do próprio animal, que estimula actos violentos do cão perante terceiros” não deveria estar também consagrado nesta lei?
PS: Duas raças portuguesas foram incluídas na lista italiana de cães perigosos : os Serra da Estrela e os Rafeiros Alentejanos. A ignorância levou a que muitos destes belíssimos animais fossem imediatamente abandonados, também em Portugal. Em defesa dos Serra, só posso dizer que foi através de um ( o Mambo ) que retomei a minha amizade com os cães, há quase dez anos.
Subscrever:
Mensagens (Atom)