domingo, maio 27, 2007

Pode ler-se, entre outros artigos dos Direitos da Criança que “…a criança, para o desenvolvimento harmonioso da sua personalidade, tem necessidade de amor e compreensão. Deve, tanto quanto possível, crescer sob a salvaguarda e sob a responsabilidade dos pais, e, em qualquer caso, numa atmosfera de afecto e de segurança moral e material…”

Madeleine McCann, na inocência dos seus 4 anos, nunca deve ter ouvido falar de direitos da criança. Mas deve ter tido sempre- como qualquer miúdo – a necessidade de amor, carinho, colo, segurança.

Na noite em que desapareceu faltou este aspecto tão importante: a segurança.

Dormia descansada ao lado dos irmãos, para acordar de manhãzinha, pronta para mais um dia com brincadeiras na areia e chapinhar nas ondas do Algarve.

No seu sono profundo não sabia que os pais tinham saído de casa para jantar a escassos metros dali… (qual é a distância mínima de segurança , afinal? )

Sonharia com outras coisas, mas certamente não sonhava que isto poderia acontecer.

Nestas idades, sonha-se com princesas, castelos, fadas, reinos de faz de conta.

E se por acaso aparece um pesadelo com uma bruxa má, um bicho papão ou um monstro com escamas, acorda-se e chama-se a mãe ou o pai.

Se calhar, Madeleine acordou e viu um destes “maus” mesmo ao lado da cama dela… e também chamou “Mummy…Daddy” … mas nenhum deles estava suficientemente perto.
Ao longo deste mês de Maio, o Rádio Clube Português abraçou uma causa – a luta contra a fome. Todas as manhãs, João Adelino Faria e a sua equipa trazem-nos histórias de gente que, em Portugal, passa fome. Pessoas que vivem no limiar da pobreza, deitando-se muitas vezes de estômago vazio. Uns perderam os empregos, as familias, os amigos. A esperança. No entanto, a história que ouvi ontem tocou-me ainda mais do que todas as outras, porque nada disto se tinha perdido. Uma familia numerosa, a viver no Cacém: Pai, Mãe, dez filhos que vivem com um rendimento minimo. Sandra, a filha mais velha, conta-nos como a palavra proibida era “desperdicio”- o que restava do almoço fornecido pela escola era levado para casa para os aconchegar ao jantar. Carne, só de porco, com os ossos a voltar para a panela para dar corpo às sopas – estas sempre: graças à horta que lhes fornece feijão verde, couves e batatas.Algumas sardinhas e carapaus. Em “dias de festa”, o pai comprava pão de deus, com côco por cima, e dividia-o pelos irmãos. Gelados, só uma vez por ano – apesar de aos fins de semana, o pai também os vender para amealhar mais uns trocos. Os filhos foram arranjando empregos, mesmo em idades precoces. Mas todos os sacrificios para manter a familia unida, valeram a pena. Sandra imagina-se a ter também muitos filhos. Porque havendo amor e imaginação, reconhece (e faz-nos recordar) não é o dinheiro que traz a felicidade