domingo, dezembro 16, 2007

Só queremos mesmo é que as férias nos corram bem….
Que a casa que alugamos por telefone não seja afinal uma cave com kitchenette e varanda com marquise, em vez da prometida vivenda com duzentos metros quadrados e piscina.
Que as nossas crianças não berrem tanto como quando vão ao centro comercial ao domingo e exigem um chupa-chupa gigantesco ou um balão vermelho.
Que a cerveja seja sempre servida estupidamente gelada.
Que o nosso cônjuge se lembre de que somos alérgicos a camarão, quando vai fazer as compras para o almoço e ,já agora, que compre replente de insectos.
Mas queremos, sobretudo, que não haja nenhum furacão para estragar o único mês em que nos conseguimos livrar de patrões, colegas e claro, da chatice do trabalho.
É que a porcaria dos furacões conseguem mesmo dar cabo das férias de uma pessoa- estar o ano todo a amealhar, poupando aqui e ali para conseguir comprar aquela pechincha na feira de viagens:
“ A ilha quente com que sempre sonhou, praias tropicais, natureza exuberante, exóticas paisagens alaranjadas ao entardecer… Imagine o paraíso”
Ora, o paraíso não contempla uns ventos a mais de 200 km hora com nome de actor!
Por isso, compreende-se a frustação dos mais de 2000 portugueses que estavam por terras da Jamaica e arredores e sentiram que as suas férias ficaram estragadas.
Alguns tiveram sorte – um desses turistas relatava aos microfones da TSF a felicidade de ter sido “trasladado” para o outro lado da ilha e assim sendo, não ter corrido riscos. Nunca uma trasladação tinha sido feita assim, em vida! Pelo que o Entroncamento acaba de perder o monopólio dos fenómenos.

Até à hora em que escrevo estas linhas, não ouvi nenhum turista falar dos desalojados, dos mortos, dos feridos. Das condições em que o “paraíso” que os recebeu ficou, depois da tempestade. É que nem sempre se segue a bonança. Na maior parte das vezes, só o desespero de não ter tecto, agua e comida.
Por isso fico impressionada com o facto de, aparentemente, ninguém ter decidido ficar; ficar o resto das férias no território para ajudar no que for preciso. É que nem é obrigatório ser-se profissional de saúde – haverá portas e telhados para arranjar; roupa e vidros para lavar; crianças a quem dar um colo.
Não. O ideal foi ter um avião para transporte imediato para casa. Para terra firme e segura. Para a frente das câmaras de televisão onde vão falar daquela extraordinaria experiência. Para receber os abraços e gritinhos histéricos da prima que os vai buscar à Portela. Aproveitar e ainda reclamar das malas terem demorado mais de hora e meia nos tapetes- é que ainda havia uns dias de férias para disfrutar numa praia qualquer – com cerveja quente, miúdos aos berros e picadas de mosquitos. Poderá não ser a tal “ilha com que sempre se sonhou”, e a nada em volta se aplicar os adjectivos “exuberante e tropical”. A exótica paisagem alaranjada é substituída pelo néon fluorescente do shopping… mas pelo menos não há furacões nem gente à volta a chorar porque perdeu o filho ou a casa.
Isto sim, é o paraíso.

( escrito em agosto, depois de um Furacão ter assolado a Jamaica)

Sem comentários: