sexta-feira, março 16, 2007

ELAS E ELES
Elas: acham que as regiões autónomas de Portugal são Porto e Lisboa. Eles: condescendentemente explicam que são as Ilhas…Elas: dizem que não há rios que nasçam em Portugal. Eles: com paciência lá falam do Mondego e de outros cursos de água…Elas: não sabem quem é Saramago. Eles: num ensaio de lucidez, encarregam-se de explicar. Elas e Eles: “protagonistas” de mais um produto televisivo para massas que estreou no nosso País, poucos dias depois do Dia Internacional da Mulher. Pergunto-me se um Ser Humano vale (apenas) pelos seus conhecimentos de história, geografia ou matemática ou pela capacidade de ganhar ao jogar “Trival” … e recordo experiências maravilhosas à conversa com pessoas sapientes apesar de analfabetas, que me revelaram vidas feitas de outros saberes.
Nesta nova proposta televisiva, já não se trata só de espreitar para a casa do vizinho; é saber que a vizinha “boazona”, coitadinha! é burrinha, burrinha; e se não fosse o homem lá de casa aquilo era uma tristeza… Isto tem um nome. E não é um nome bonito. Sobretudo no Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades – aqui, só há a oportunidade de alguns anónimos terem uns dias de ”fama”. O pouco que vi desta novela, envergonha-me. Tanto quanto uma demonstração gratuita de violência sobre as mulheres - transmitida nacionalmente e quase com honras de Estado- em forma de pontapé.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois é, também eu passei há dias pela iluminadora experiência!
Para não ficar a olhar para as pessoas com ar de mongo quando me falam daquele reality show, enchi-me de coragem, respirei fundo duas vezes e decidi retirar duas horas à minha expectactiva de vida... sentei-me e assisti ao programa!
Devo confessar que ainda não me refiz completamente... enfim, como não estou a ficar mais novo, devo estar a perder resistência.
Mas não me chocou o tratamento dado às mulheres, esse é já um choque crónico - chocou-me o conjunto completo daquilo tudo.
Chocou-me imaginar quantas pessoas estavam a assistir...
Chocou-me pensar quantas estariam a assistir "por querer"...
Como costumo comentar àcerca das prostitutas, o pior defeito delas são os clientes...
Aqui, não sei se deite as culpas aos clientes, os espectadores, se aos responsáveis.
Sempre achei que, fosse qual fosse o problema, era sempre, básicamente, uma questão cultural.
Mas já aprendi que nem sempre: a verdade é que é mais uma questão "dinheiral"...
Aqueles senhores aprenderam da forma mais perversa a lição de Maquiavel... mas isso é o meu mau feito que acha, embora permaneça verdade que é sempre perigoso quem "não olha a meios"...
...e o actual panorama da televisão em Portugal, salvo raras e honrosas excepções, é perigoso!